Bellocchio nos brinda com uma narrativa grandiosa, explorando o poder da Igreja e o drama de uma família no século XIX; filme estreia nesta quinta-feira (11) nos cinemas brasileiros
Marco Bellocchio, um dos grandes mestres do cinema italiano, retorna com “O Sequestro do Papa”, uma obra que combina grandiosidade visual e profundidade emocional. O filme mergulha na história verídica de Edgardo Mortara, um garoto judeu que, em 1851, foi arrancado de sua família pelo regime papal de Pio IX, após ser batizado em segredo. Desde os primeiros minutos, a magnitude da produção é evidente. Bellocchio recria a Itália do século XIX com uma precisão impressionante, transportando o espectador para uma época onde a opulência dos cenários e a riqueza dos figurinos são tão impactantes quanto a própria narrativa. A atenção meticulosa aos detalhes desde as roupas de época até os grandiosos palácios confere ao filme uma autenticidade rara.
Bellocchio, sempre um crítico sagaz da influência religiosa na sociedade, utiliza o caso de Mortara para explorar temas complexos de poder e identidade. O filme se destaca não apenas pela sua construção histórica, mas também pelo seu estilo operístico. Bellocchio adota uma abordagem cinematográfica clássica, evocando a sensação de assistir a uma ópera em cada cena. A trilha sonora, composta por uma orquestra exuberante, acompanha cada emoção dos personagens, amplificando os sentimentos e adicionando camadas de profundidade à narrativa.
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Os personagens são retratados com uma intensidade dramática que beira o teatral. Paolo Pierobon, como Papa Pio IX, entrega uma performance poderosa, carregada de nuances e complexidade. Ele encarna o antagonismo de maneira quase caricatural, mas com uma gravidade que reforça a crítica de Bellocchio à autoridade eclesiástica. Do outro lado, o jovem Edgardo Mortara, interpretado por Enea Sala na infância e Leonardo Maltese na juventude, é o retrato da inocência perdida e da luta desesperada de uma criança arrancada de seu mundo.
Uma das cenas mais memoráveis do filme é a transformação de uma estátua de Jesus em um homem real, que desce da cruz e caminha pela igreja, simbolizando a esperança e a redenção em meio à opressão. Essa cena mostra a capacidade de Bellocchio de mesclar o real com o simbólico. Apesar de sua grandiosidade, “O Sequestro do Papa” não é isento de críticas, a abordagem de Bellocchio pode parecer excessivamente maniqueísta, com uma clara divisão entre o bem e o mal. A narrativa se ressente de uma maior sutileza, muitas vezes entregando ao público uma visão simplista dos eventos.
O título brasileiro, “O Sequestro do Papa”, pode ser enganador, sugerindo que o líder religioso foi a vítima do sequestro, quando na verdade a história gira em torno de Edgardo Mortara. Esse título sensacionalista parece uma tentativa de atrair um público maior, mas não faz jus à complexidade da trama. A produção foi indicada em 11 categorias no Davi di Donatello, entre elas, melhor filme, diretor e roteiro adaptado, e venceu nas categorias melhor figurino, maquiagem e cabelo.
Em resumo, “O Sequestro do Papa” é uma obra essencial para os amantes do cinema que apreciam uma narrativa profunda e uma produção luxuosa. Bellocchio, com sua visão artística única, entrega um filme que permanecerá na memória dos espectadores por muito tempo. O longa estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (11), com distribuição da Pandora Filmes.